Se Jesus se torna um caso
Acaba de ser publicado o livro Ampliare l'orizzonte della ragione. Per una lettura de Joseph Ratzinger – Benedetto XVI (Città del Vaticano, Libreria Editrice Vaticana, 2012, 77 páginas, 12 euros) do arcebispo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Publicamos excertos de um dos capítulos que contém o texto da relação feita no congresso «Dal lògos dei Greci e dei Romani al Lògos di Dio. Ricordando Marta Sordi» (Milano, Università Cattolica del Sacro Cuore, 13 novembre 2011).
Na lição em Regensburg Bento XVI ressaltou de novo a síntese de fé e razão e de liberdade e amor. Quatro conceitos que hoje um mundo secularizado gostaria de reclamar para si, sem reconhecer ao mesmo tempo à Igreja o direito de se apresentar como fonte de uma vida sensata da sociedade. Quem não crê em Cristo como único mediador de salvação, orgulha-se da própria abertura mental e capacidade de tolerância, acusando a Igreja de constrangimento das consciências e de imperialismo espiritual. Mas esta tolerância elevada a absoluto numa visão pluralista do mundo, falta quando se trata do cristianismo e da sua escolha de fé.
O relativismo aplicado à verdade não é só um raciocínio filosófico, mas desemboca inevitavelmente na intolerância em relação a Deus. Os enunciados principais sobre Deus, Jesus Cristo, a Igreja, no máximo são considerados como subcultura de um agrupamento religiosamente motivado. Deus torna-se um «ideal», que se deve usar para a edificação ou para a doutrinação dos homens. Jesus Cristo torna-se um «caso» particularmente adequado para servir como modelo para a moral da sociedade, e a Igreja é uma união livre (como a associação) de pessoas com as mesmas opiniões subjectivas em matéria de religião.
A nossa profissão de fé contém já o gérmen de um encontro com Deus orientado segundo a razão humana. Razão, racionalidade não são conceitos incompatíveis com a fé, mesmo se esta é a reprovação constante. Nós, como seres racionais, somos concebidos de tal modo que não escondemos Deus perante a razão. O mundo precisa de uma razão que não seja surda em relação ao divino. O Lógos divino assumiu a natureza humana em Jesus Cristo. Esta é a fé que a razão ensina a compreender, esta é a razão que chega à fé, esta é a liberdade que age segundo consciência.
Gerhard Ludwig Müller
Fonte:L'osservatore Romano
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