11 maio 2010

Papa é tímido e um gigante ao nível cultural

ALEXANDRA SERÔDIO

Cardeal patriarca acredita que os cristãos vão ter encontro "muito forte" com Bento XVI num "tempo concreto que não é fácil", mas que o Mundo está a viver.

Esteve na eleição de Bento XVI e assegura que o Papa é um homem tímido e que, por isso, faz um enorme esforço para enfrentar multidões. D. José Policarpo apela à mobilização dos católicos para as cerimónias religiosas e recorda as conversões de jovens durante a visita do último Papa a Portugal. Apaixonado pelo "diálogo entre o rio e a cidade de Lisboa", o Cardeal Patriarca admite que a missa no Terreiro do Paço será um momento único.

Que expectativas tem em relação a esta visita?

O principal é que corra muito bem e estamos a preparar-nos para isso. Espero que, como já aconteceu das outras vezes, o encontro com o Santo Padre seja uma experiência muito forte de pertencer a esta Igreja, num tempo concreto que não é fácil, mas é o que estamos a viver. Não sei se é mais fácil ou mais difícil de passar, é aquele que estamos a viver. E, portanto, será certamente em todos os sítios onde o Santo Padre estiver um encontro muito forte, muito vivo dos cristãos com a figura do Papa.

É a primeira vez que os cristãos portugueses vão estar com este Papa...

O encontro com o Papa, do ponto de vista físico, de comunhão com o Papa, na maior parte da vida dos cristãos é feita espiritualmente. Antigamente até havia o 'slogan' muito engraçado que era 'ir a Roma e não ver o Papa'. De há 50 anos a esta parte, depois do Concílio Vaticano II, os Papas introduziram uma novidade no seu ministério que é viajar. João Paulo II ultrapassou todos os recordes, ele gostava de viajar. Já Paulo VI viajou e este também. Estas viagens permitem às comunidades sentir ao vivo uma dimensão permanente da sua eclesialidade, que é a comunhão com o sucessor de Pedro. E esta é uma componente fundamental do catolicismo, porque a palavra católico significa universal, portanto significa estar em comunhão com todo o Mundo, com todas as Igrejas do Mundo, na mesma fé e no mesmo amor fraterno, e na mesma compreensão fundamental da moral cristã, da existência cristã. Este vínculo de unidade tem um rosto sacramental que é o Papa, como presidente do colégio dos bispos.

É um encontro importante?

Sim. Guardo sempre na minha imagem, até porque estive muito empenhado na organização, aquele belíssimo encontro do Parque Eduardo VII com João Paulo II. É uma coisa que fica gravada. Mesmo tanto tempo depois eu tenho encontrado pessoas... houve conversões. Tenho dois padres na diocese que se converteram nesse dia. Eram jovens, descrentes, converteram-se e foram para o seminário. São óptimos padres, porque se converteram nesse encontro aqui com João Paulo II.

Portugal tem uma ligação muito forte a João Paulo II. Há quem diga que este Papa não tem tanto carisma.

Quando se diz as pessoas, dá a entender que é toda a gente e não é. Essa é uma componente que tem sido transmitida. Desde os finais do século XIX que os Papas têm sido personalidades gigantes e todos diferentes uns dos outros. Aquando da eleição deste Papa, em que estive presente, uma das coisas que corria entre nós era como seria suceder a João Paulo II. Lembro-me de dizer: 'Tirem isso da cabeça. Nós não vamos eleger uma pessoa para suceder ou imitar João Paulo II. Vamos eleger uma pessoa para um tempo novo'. Este papa é diferente, não há dúvida nenhuma. É uma pessoa diferente. Conheço-o há muito tempo. É um tímido, de uma sensibilidade enorme e um gigante do ponto de vista cultural. É das cabeças mais brilhantes do século XXI e, sem dúvida nenhuma, entre os maiores teólogos da história da igreja. Isso dá-lhe uma componente muito importante que marca a forma de estar. É um homem que descansa a tocar ou a ouvir música. Não é um homem de multidões, não. Eu acho que ele está a fazer um esforço enorme para o seu temperamento, para a sua maneira de ser, enfrentar as multidões que ele tem, apesar de ter diminuído o número de viagens.

Bento XVI pode arrastar multidões?

Os tempos são outros e temos de ter isso em conta. Em 40 anos a sociedade mudou muito, até nos meios de Comunicação Social. Penso que a grande tentação que o nosso povo vai ter, neste momento, é ficar descansado em casa a ver a belíssima reportagem que os meios de comunicação vão oferecer e não perceberem que não é a mesma coisa. Porque para além da pessoa é o Papa, o 'homem vestido de branco'.

Escolheu o Terreiro do Paço para a celebração da missa porquê?

O Terreiro do Paço foi escolhido de propósito e por duas razões: primeiro, porque acho que é a praça mais bonita de Lisboa e, portanto, é a nossa sala de visitas. E acho que Lisboa sem o rio não é a mesma coisa. O diálogo do rio com a cidade é uma coisa congénita, como aliás no Porto também é. Sou particularmente apaixonado por esse diálogo contínuo entre a cidade e o rio. Estamos a celebrar os 50 anos da inauguração do monumento a Cristo Rei e a diocese de Setúbal queria muito que o Santo Padre tivesse um momento no Cristo Rei. É uma visita muito curta e mesmo do ponto de vista logístico não era fácil. Optámos por uma solução que era o Papa celebrar em Lisboa num sítio onde se visse o Cristo Rei e num determinado momento da celebração ter um gesto. Até se chegou a pensar que o Santo Padre acenderia a nova iluminação, mas vai ser complicado porque às 20 horas, naquela altura ainda estará Sol, portanto vai ser complicado com um interruptor acender a nova iluminação da estátua do Cristo Rei.

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